Editado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
Brasília, 22 de Dezembro de 2009
Leia os principais trechos da entrevista do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao programa Bom Dia Ministro, que é transmitido ao vivo para emissoras de rádio em todo o Brasil.

O Brasil trabalhou sério, de forma correta e com bastante esforço nos últimos anos para crescer a taxas maiores, criar mais empregos e, também, estar mais preparado para enfrentar crises como esta.
No passado, crises muito menores traziam consequências dramáticas para o País e para a população brasileira. Desta vez entramos na crise crescendo a taxas elevadas. O consumo da população, a produção e o investimento cresciam a quase 20% ao ano, com a inflação estabilizada. Além disso, o País estava com mais de US$ 200 bilhões de reservas internacionais. Tudo isso fez com que enfrentássemos esta situação mais fortalecidos.
Ao mesmo tempo, durante o colapso financeiro soubemos reagir de forma rápida e eficaz. O Banco Central (BC) atacou os canais da crise. Assim, o BC ofertou empréstimos em dólar e substituiu, na prática, o Sistema Financeiro Internacional, que tinha deixado de financiar os exportadores e os bancos brasileiros. Usamos os depósitos compulsórios para prover recursos para bancos pequenos e médios que estavam deixando de oferecer financiamento em muitos setores importantes. Atuamos fortemente nisso, nos chamados derivativos, que estavam em crise em função de todo esse desequilíbrio e de uma série de outras questões.
Em seguida o governo começou com a isenção do IPI. No momento em que o governo tirou o IPI do automóvel, por exemplo, impulsionou a economia. Quando o comprador foi ao revendedor, em dezembro, atraído pela queda do IPI, já havia crédito, o mercado já estava funcionando normalmente, que não aconteceu em outros países. As ações tomadas pelo Brasil neste período são consideradas exemplares. Órgãos multilaterais, como o FMI, bancos de compensações internacionais e analistas independentes classificam a nossa atuação como modelo a ser seguido. O que devemos fazer agora é manter uma política monetária responsável, fiscal e cambial à frente, também responsáveis para o Brasil continuar na trajetória de sucesso.
Dívida Externa
O Brasil, de fato, teve como um dos grandes problemas, durante todas as nossas vidas, a chamada dívida externa. Quem de nós viveu no Brasil numa época em que não ouviu falar em algum momento da crise da dívida externa? Um dia, pesquisando sobre o assunto, verifiquei que o nosso problema de dívida externa, na realidade, começou na independência. Em 1822, como parte da negociação da independência, o País assumiu uma dívida externa de Portugal. O Brasil sempre viveu um problema da dívida externa elevada, não só o governo, mas também as empresas. Na medida em que havia uma crise internacional qualquer, tínhamos dificuldade de renegociar, de continuar tomando empréstimos e enfrentávamos problemas internos graves em função da dívida. Nos últimos anos fizemos um grande trabalho de recuperação e reforma da economia brasileira que, entre outras coisas, fez com que pudéssemos acumular reservas e pagar dívidas. Para termos uma ideia, o País era um devedor do FMI, devia uns US$30 bilhões de dólares. Pré-pagamos outros credores e, portanto, acumulamos reservas e, em 2006, o País se tornou um credor líquido internacional pela primeira vez na história. Isso significa que agora este é um problema do passado.
Crédito
A previsão de crescimento para o mercado de crédito no ano de 2010 é bastante positiva. Cresceu a taxas elevadas antes da crise, durante a crise caiu bastante, agora já se recuperou e a essa altura está em expansão. O custo do crédito também está caindo e o volume aumentando, que é a trajetória correta. Não há dúvida de que a taxa de juros na ponta do empréstimo ainda é elevada, já foi muito mais no passado, está caindo como resultado da estabilização da economia brasileira e a tendência é que continue a cair. Com a estabilização da economia brasileira, isto é, com a inflação controlada e, também com as reservas internacionais, poderemos assegurar, nos próximos anos, uma continuidade desse processo. Basta mantermos as políticas adequadas. Agora, em termos de volume, o total de crédito concedido aumentou, está bastante forte, saudável e retomando um padrão de normalidade que prevalecia antes da crise.
Taxa Selic
O BC tem uma política de governança, como a maior parte dos bancos centrais do mundo, de não fazer previsões sobre as próprias ações. Isto é, quais serão as decisões tomadas no que diz respeito à taxa Selic. O importante é que se olhe as previsões de inflação para o ano de 2010. Elas fornecem dados importantes para tomar a decisão sobre as medidas necessárias. O BC evidentemente se baseia nas próprias projeções. Mas as projeções feitas pelos analistas também são olhadas por todos e são importantes. O relatório Focus do Banco Central indica uma inflação que está consistente com a meta em 2010.
Inflação e estabilidade dos preços
O BC tem um compromisso com uma meta de inflação de 4,5% e toma todas as medidas necessárias para que seja atingida. A meta tem um intervalo de tolerância que pode variar e temos conseguido cumpri-la. Tomaremos todas as providências necessárias, seja no controle das taxas base do BC, seja por meio da fixação da política monetária adequada, e também, com a política de câmbio flutuante bem administrada. Em resumo, o importante é que a população pode ficar tranquila de que o BC tem os mecanismos e o comprometimento para manter a estabilidade de preços durante 2010.