segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A crise sequestrada


Paul Krugman
 A crise sequestrada . Quando alguém sangra profusamente por uma ferida, quer que o médico estanque esse sangramento, não um que dê lições sobre a importância de manter um estilo de vida saudável. Quando milhões de trabalhadores dispostos e capazes estão desempregados, e se desperdiça o potencial econômico ao ritmo de quase um trilhão de dólares por ano, eles querem que os políticos busquem uma recuperação rápida em vez de gente que faça sermões sobre a necessidade da sustentabilidade fiscal no longo prazo. O artigo é de Paul Krugman.

Paul Krugman

A agitação dos mercados deixou-os com uma sensação de medo? Bom, deveria ter deixado mesmo. Está claro que a crise econômica que iniciou em 2008 não terminou. Mas há outra sensação que deveriam sentir: ira. Porque o que estamos vendo agora é o que ocorre quando pessoas influentes se aproveitam de uma crise para obter alguma vantagem ao invés de resolvê-la.

Durante mais de um ano e meio – desde que o presidente Obama decidiu converter os déficits e não os postos de trabalho, no tema central de seu discurso sobre o Estado da União de 2010 -, temos mantido um debate público que está dominado pelas preocupações orçamentárias, enquanto que, praticamente, não se tocou na questão do emprego. A supostamente urgente necessidade de reduzir os déficits dominou a tal ponto a retórica que, na semana passada, em meio ao pânico nas bolsas, Obama dedicava a maioria de seus comentários ao déficit em vez de ao perigo claro e presente de uma nova recessão.

O que fazia com que tudo isso resultasse tão grotesco era o fato de que os mercados estavam indicando tão claramente como alguém pudesse desejar, que nosso maior problema é o desemprego e não os déficits.

Tenham em conta que os falcões do déficit levaram anos advertindo que as taxas de juro da dívida dos EUA iriam para as nuvens a qualquer momento.

Supunha-se que a ameaça do mercado dos títulos do Tesouro era a razão pela qual deveríamos reduzir drasticamente o déficit. Mas essa ameaça segue sem se materializar. E na semana passada, logo depois do rebaixamento da classificação de risco dos EUA, que, se supunha, deveria assustar os investidores em títulos do Tesouro, essas taxas de juros caíram a mínimos históricos.

O que o mercado estava dizendo – quase para vocês – era: “O déficit não nos preocupa!. O que nos preocupa é a debilidade da economia!” Porque uma economia débil se traduz tanto em taxas de juros baixas como na falta de oportunidades empresariais, o que, por sua vez, se traduz em que os títulos do Tesouro se convertam em um investimento atrativo ainda que sua rentabilidade seja baixa. Se o rebaixamento da dívida dos EUA teve algum efeito, foi o de acrescentar os temores em relação a políticas de austeridade que podem debilitar ainda mais a economia.

E como o discurso de Washington foi dominado pelo discurso equivocado?

Os republicanos radicais, como não, tem algo a ver com isso. Ainda que pareça que não estão muito preocupados com os déficits (tentem propor

qualquer aumento dos impostos para os ricos), descobriram que insistir nos déficits é uma forma útil de atacar os programas do governo.

Mas nosso debate não teria chegado a esse descaminho se outras pessoas influentes não tivessem se mostrado tão ansiosas para fugir do assunto do emprego, mesmo diante de uma taxa de desemprego de 9%, e sequestrar a crise em defesa de seus planos prévios.

Repassem a página de opinião de qualquer jornal importante, os escutem qualquer programa de debate, e é provável que topem com algum autoproclamado centrista afirmando que não há remédios no curto prazo para nossas dificuldades econômicas, que o responsável é concentrar-se nas soluções de longo prazo e, principalmente, na “reforma das prestações”, ou seja, cortes na Seguridade Social e no Medicare. E quando toparem com alguém assim, estejam conscientes de que esse tipos de gente é um dos principais motivos pelos quais temos tantos problemas.

Porque o fato é que, nestes momentos, a economia necessita desesperadamente de um remédio no curto prazo. Quando alguém sangra profusamente por uma ferida, quer que o médico estanque esse sangramento, não um que dê lições sobre a importância de manter um estilo de vida saudável. Quando milhões de trabalhadores dispostos e capazes estão desempregados, e se desperdiça o potencial econômico ao ritmo de quase um trilhão de dólares por ano, eles querem que os políticos busquem uma recuperação rápida em vez de gente que faça sermões sobre a necessidade da sustentabilidade fiscal no longo prazo.

Infelizmente, dar lições sobre a sustentabilidade fiscal é um passatempo da moda em Washington: é o que fazem as pessoas que querem parecer sérias para demonstrar sua seriedade. Quando a crise estourou e nos arrastou para grandes déficits orçamentários (porque é isso o que acontece quando a economia se contrai e as receitas despencam), muitos membros de nossa elite política tinham muita vontade de utilizar esses déficits como desculpa para mudar de tema e passar do emprego para sua cantilena favorita. E a economia seguiu sangrando.

O que implicaria uma resposta real para nossos problemas? Antes de qualquer coisa, no momento, implicaria mais gasto governamental, não menos; com um desemprego massivo e custos de financiamento incrivelmente baixos, deveríamos estar reconstruindo nossas escolas, estradas, redes de distribuição de água e outros serviços. Implicaria medidas agressivas para reduzir a dívida familiar mediante o refinanciamento das hipotecas. E implicaria um esforço da parte da Reserva Federal para tratar de, usando todos os meios possíveis, colocar a economia em movimento com o objetivo declarado de gerar mais inflação a fim de aliviar os problemas de endividamento.

Logicamente, os suspeitos habituais chamaram essas ideias de irresponsáveis. Mas eles sabem o que é, de fato, irresponsável? Sequestrar o debate sobre a crise para conseguir as mesmas coisas que defendiam antes da crise, e deixar que a economia siga sangrando.

(*) Paul Krugman é professor na Universidade de Princeton e Prêmio Nobel de Economia.
Tradução: Katarina Peixoto

15/8/2011 17:59, Por Carta Maior






Analistas de mercado reduzem previsão de inflação após medidas de austeridade

A inflação tem caído gradativamente
 ao longo dos últimos meses
O mercado financeiro reduziu pela segunda semana consecutiva sua estimativa para a inflação após o aumento da instabilidade nos mercados globais, mostrou o relatório Focus divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira. A previsão para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano caiu de 6,28% para 6,26%, e a do próximo de 5,27% para 5,23%. O prognóstico para a taxa nos próximos 12 meses, por outro lado, aumentou, de 5,42% para 5,44%.

Na semana passada, o mercado global teve um dos períodos de maior volatilidade da história após o rebaixamento da nota de dívida americana pela Standard & Poor’s e em meio à preocupação com um agravamento da crise da dívida na Europa. Os investidores também temem uma possível volta à recessão da economia global. Isso, no entanto, poderia reduzir os preços das commodities, o que é uma boa notícia para a inflação brasileira. Além disso, o BC tende a ser mais cauteloso em meio a uma crise, por isso a redução na estimativa do mercado para o juro.

A meta do governo para a inflação nos dois anos tem centro em 4,5% e tolerância de dois pontos percentuais. A estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano passou de 3,94% na semana passada para 3,93%. Em 2012, a previsão continua de 4%. A estimativa para a Selic neste ano e no próximo se manteve estável a 12,50%. As instituições Top 5 de médio prazo, as que mais acertam as projeções, também preveem taxa básica de juros (Selic) estável a 12,50% até o final do ano que vem pelo menos, de acordo com a mediana das estimativas.

O prognóstico para a taxa de câmbio no final deste ano permaneceu em R$ 1,60 por dólar. A projeção no final de 2012 foi mantida em R$ 1,65.

PIB em queda

A estimativa de analistas do mercado financeiro consultados pelo BC para o crescimento da economia neste ano caiu ligeiramente pela segunda semana seguida. A projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, passou de 3,94% para 3,93%. Para 2012, a estimativa continua em 4%.

Ainda segundo o boletim Focus, a expectativa para o crescimento da produção industrial passou de 3,01% para 3%, este ano, e permanece em 4,30%, em 2012. A projeção para a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB foi mantida em 39,10%, este ano, e em 38%, em 2012.

A expectativa para a cotação do dólar ao final de 2011 continua em R$ 1,60, neste ano, e em R$ 1,65, em 2012. A previsão para o superávit comercial (saldo positivo de exportações menos importações) permanece em US$ 22 bilhões, neste ano, e foi ajustada de US$ 10,65 bilhões para US$ 10,85 bilhões, em 2012.

Para o déficit em transações correntes (registro das transações de compra e venda de mercadorias e serviços do Brasil com o exterior), a estimativa diminuiu de US$ 59 bilhões para US$ 57,97 bilhões, em 2011, e de US$ 68,90 bilhões para US$ 68,25 bilhões, no próximo ano.

A expectativa para o investimento estrangeiro direto (recursos que vão para o setor produtivo do país) permanece em US$ 55 bilhões, este ano, e em US$ 50 bilhões, em 2012.

15/8/2011 13:20, Por Redação - de Brasília










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