BRASÍLIA - Governo e iniciativa privada avaliam que a crise passou. A recuperação da economia tem, porém, evolução diferente entre os setores e o exportador continua sendo o foco de preocupação principal. O debate aconteceu ontem durante a 7º reunião do Grupo de Acompanhamento da Crise (GAC), no Ministério da Fazenda, em Brasília. Apesar das dificuldades do segmento exportador, o governo não dá sinais de que mudará a política cambial. A classe empresarial, no entanto, pede medidas por outras vertentes. O presidente da Confederação Nacional de Indústria (CNI), Armando Monteiro, lembrou que é preciso avançar na área tributária e buscar compensações para o efeito do câmbio. Segundo ele, o setor exportador tem problemas antigos, um dos quais o acumulo de créditos, principalmente de ICMS. Além disso, Monteiro falou sobre a necessidade de impor a agenda da desoneração da folha de pagamento. "Isso reduziria o custo de alguns setores exportadores da indústria", disse. Na saída do encontro, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Miguel Jorge, reafirmou o câmbio flutuante e disse que a agenda nacional volta a discutir problemas pré-crise, como o Brasil. "Diria que o fim da crise nos devolve a uma agenda que o Brasil, de certo modo, com os anos mais favoráveis da economia internacional, abandonou, que é a agenda de buscar atacar os problemas que a economia ainda tem. Custos altos e buscar mais eficiência do ponto de vista logístico, do ponto de vista de competitividade", afirmou Monteiro. "A crise vai nos devolver a essa realidade e vai nos obrigar nesses próximos anos a realizar um trabalho intenso para manter a competitividade, ou melhorá-la", completou. Para os presentes na reunião, o ambiente de hoje, de uma maneira geral, indica que está havendo um processo amplo de melhoria na economia. Monteiro afirmou que o setor químico, de bens de capital e o setor têxtil tiveram alguma recuperação. "O ministrou [Guido Mantega] ouviu e reconhece que há dificuldades, porque tem uma parte que depende dos Estados. Por exemplo, o acumulo de crédito de ICMS é gerado nos estados e, portanto, não tem solução fácil. Mas há uma disposição para manter o grupo e começarmos a nos debruçar sobre essa agenda da competitividade". Monteiro disse que não houve proposta do governo no sentido de que vai fazer algo a curto prazo. "Apenas registraram a informação. Uma notícia boa é que os financiamentos relativos ao setor de bens de capitais começam a dar resultados". Monteiro se referiu à redução dos custos de financiamento e contou que Mantega anunciou, no final da reunião, que o governo completou a integralização do fundo garantidor de crédito, em R$ 3 bilhões. No entanto, a preocupação predominante está no setor externo da economia - ou seja, as exportações, sobretudo de manufaturados, continuam tendo uma queda forte. "Não apenas em decorrência da retração dos mercados externos. Há um acirramento da concorrência em todos os mercados e há ainda uma crescente penetração de produtos importados, exatamente em função do problema de desequilibrio que já tínhamos", afirmou. Monteiro citou as desenvantagens, custos sistemicos mais elevados, problemas de logística, problemas tributários, relacionados ao custo de financiamento de capital, mas tudo isso agravado pela questão do cambio. "A moeda brasileira esta apreciada. Isso tira do setor exportador do País, sobretudo manufaturados, uma capacidade de competição em um momento muito difícil nos mercados externos. Então essa é a preocupação", acrescentou. Na reunião, segundo Monteiro, foi sugerido a mudança do nome do grupo, para Grupo de Acompanhamento pela Competitividade. Entre as medidas anunciadas recentemente pelo governo está a redução da TJLP, usada nos financiamentos do BNDES, e de outras linhas do banco de fomento, além de uma equalização de juros pelo Tesouro Nacional. A esperança do governo é de que a utilização da capacidade já tenha subido o suficiente para deflagrar decisões generalizadas de investimento e, com isso, a formação de capital volte a crescer, liderando o crescimento do PIB - disse o executivo. De janeiro a junho de 2009, o BNDES desembolsou um total de R$ 41,9 bilhões. Esse volume de recursos foi dividido da seguinte forma: agropecuária, com R$ 3,134 bilhões (7%); indústria, com R$ 17,324 bilhões (42%); infraestrutura, com R$ 16,436 bilhões (39%); e comércio, com R$ 5,062 bilhões (12%). O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, também disse que, embora a taxa de câmbio seja uma preocupação para os exportadores, cada vez mais é preciso se discutir as questões estruturais de competitividade das empresas brasileiras. "Existem outras questões como a tributação, já que o Brasil exporta impostos, o custo logístico e o crédito caro. A visão tem que ser mais ampla".
DCI- Política Econômica
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