SÃO PAULO - Apesar de os resultados da indústria terem sido bastante afetados pela crise neste início de ano, o crédito para o setor foi um dos que mais cresceram neste primeiro trimestre, no setor privado, ficando atrás apenas de habitação e pessoa física. Os dados, no entanto, podem não significar um aumento em investimentos, mas estarem ligados a recursos de curto prazo, para financiamento de estoques e capital de giro.O primeiro trimestre de 2009 foi o pior dos últimos dez anos, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O indicador de evolução da produção caiu para 36,1 pontos: encontra-se 16,1 pontos abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2008 e é 4,7 pontos menor do que o do último trimestre do ano passado. É o menor indicador da série desde 1999.Em compensação, o saldo do crédito para a indústria teve um incremento de 1,2% nos três primeiros meses do ano, a estoque de R$ 299,989 bilhões, segundo dados do Banco Central. Para habitação, o crescimento foi de 7,2% no período, porém a estoques ainda baixos, de R$ 67 816. Já o crédito para indivíduos, teve expansão de 3,2%, a estoque de R$ 403,829 bilhões.Para o professor de Finanças da Brazilian Business School, Ricardo Torres, esses dados mostram uma volta do crédito ainda para setores específicos da indústria e a prazos reduzidos. "Principalmente para aqueles com mais postos de trabalho, direto ou indireto, como é o caso do automobilístico, e os que mais sofreram, como os exportadores, que não se beneficiaram da alta no câmbio como se esperava, pela queda da demanda externa." Ele lembra ainda que, depois da "seca" de crédito no fim do ano passado, as empresas tiveram de substituir o dinheiro, e "muitas usaram caixa próprio enquanto puderam". "Neste início de ano, com a melhora da situação da liquidez, os bancos voltaram a dar fôlego para as empresas", diz o professor.Para o sócio diretor da BDO Trevisan, Márcio Peppe, esses recursos foram tomados como forma de financiamento de estoque. "Mas isso não quer dizer que o problema de altos estoques vistos em janeiro esteja terminado. As empresas tomam esses recursos com vistas em sua política comercial." Assim, diz Peppe, com dinheiro em caixa para honrar compromissos, as empresas podem pôr o produto disponível à venda e dar prazo para o cliente pagar pela compra.Peppe salienta que os maiores financiadores do setor são os bancos públicos. Segundo dados do BC, o crescimento do saldo do setor no trimestre, nas instituições do governo federal, foi de 2,8%, ante um crescimento de 1,2% nos bancos privados, a saldos semelhantes, de R$ 124,760 bilhões e R$ 125,005 bilhões, respectivamente. "O presidente Luís Inácio Lula da Silva vinha dando declarações, desde o início do ano, de que não faltaria crédito, por isso o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal foram os grandes impulsionadores desse crescimento, e os efeitos disso estão sendo sentidos agora."De acordo com o professor Torres, agora as empresas já estão pressionando os bancos para financiamentos de prazos maiores. "As instituições, porém, ainda possuem alguma dificuldade de conseguir prazos mais alongados. Devido à situação dos bancos no mercado externo, há ainda um certo receio", garante.Para ele, porém, se perdurar a volta da estabilidade econômica atual, o cenário pode mudar. "Com a crise já acabando, o que eu não acredito, e uma estabilidade da economia, há uma melhora significativa das intenções de empréstimo com os prazos de pagamento mais alongados."Segundo Torres, a perdurar a situação atual, o segundo semestre já deve ter uma volta dos prazos de dois ou três anos.CaixaO vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival, adiantou números que mostram expansão sobretudo do empréstimo consignado e crédito pessoal pré-aprovado. No mês, a carteira total da instituição cresceu 5,2% em relação a março. No quadrimestre, houve salto de 23%. Nos dois casos, o desempenho superou as expectativas da diretoria. Sem dar detalhes, Percival informou de que a Caixa "estuda novas formas de crescimento" para manter o ritmo de expansão do crédito. "Houve uma reação ao comportamento da economia, que reflete a melhora do cenário. As empresas estão mais confiantes e há necessidade de reforçar o capital de giro. Entre as famílias, há indicadores de melhora da renda e do emprego da família. Por isso, conseguimos aumentar os volumes de crédito e a participação de mercado", afirma.Segundo os números apresentados pelo vice-presidente, o crédito livre para pessoa física cresceu 6% em abril na comparação com março. Entre as diversas operações desse segmento, o crédito consignado cresceu 7,4% no mês passado e o crédito pessoal pré-aprovado teve forte expansão de 15,4% no mês
DCI- 21 de Maio - Caderno Finanças- Jose Guerra
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentario