SÃO PAULO - A crise de crédito que afeta a economia internacional desde a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em meados de setembro do ano passado, não afetou o microcrédito no País. Em especial no primeiro trimestre deste ano, em que as instituições financeiras no Brasil registram queda nos saldos de suas carteiras de crédito, Caixa Econômica Federal e o sistema de cooperativas de crédito Sicredi veem alta no segmento de crédito para população de baixa renda, o que deve perdurar durante todo o restante do ano.Segundo dados da Caixa, a sua carteira de microcrédito teve uma evolução de aproximadamente 45% até dezembro de 2008, em relação ao ano anterior, para um total de R$ 3,2 bilhões. Apesar de não ter os números do primeiro trimestre de 2009, o superintendente Nacional da instituição, Milton Paulo Krüger Junior, garante que Superintendente Nacional da Caixa Econômica Federal, garante que a tendência é de alta. "Seguramente, estamos fazendo um trabalho de captação de clientes maior neste ano, que se refletirá nos números."A alta é comprovada pelo Sicredi. Em 2008, o sistema de cooperativas encerrou com uma carteira de R$ 7,9 bilhões, uma alta de 51% sobre os R$ 5,2 bilhões de 2007. Até março deste ano, a entidade já acumula uma alta de 5%, a R$ 8,3 bilhões. Segundo o gerente de Crédito Geral e Câmbio do Banco Cooperativo Sicredi, Edson Pedro Schneider, o sistema cooperativo é diferente do sistema financeiro tradicional. "Trabalhamos com nossos associados e seus recursos. Também por conhecer melhor o tomador, os índices de inadimplência são muito baixos." Além disso, ele destaca o sistema cooperativo estrangeiro como bastante forte frente à crise. "Durante essa turbulência internacional, desde o ano passado, ainda não se ouviu falar de problemas com instituições como o banco alemão Rabobank", compara Scneider.Apesar da tendência de crescimento esperada, para conseguir aproveitar todo o seu potencial, o setor ainda tem muitos desafios a vencer, como custo das operações de crédito, a informalidade e a educação financeira da população a que se destina."Hoje ainda não há um meio para conseguir custos adequados. Pelos valores concedidos, o custo é alto, porém traz resultados importantes para a comunidade", afirma Schneider.Segundo pesquisa da entidade, dos empréstimos concedidos, 79% deles representaram um incremento no faturamento médio daquela família. "É preciso ampliar e criar mecanismos para conseguir mais resultados."Para o superintendente da Caixa, a premissa básica é ganho em escala. "É preciso conseguir rentabilidade com escala de negócio e baixo custo." Ainda segundo ele, para reduzir os gastos, é necessário simplificar e automatizar os processos. "O cartão de débito é essencial nessa estratégia, que representa um modelo de receita e rentabilidade, contra o saque, que representa um custo." Por isso, para ele, é fundamental que essa parcela da população se utilize mais do cartão de débito e, por isso, a Caixa tem investido em propagandas para incentivar essa prática.Além disso, diz Krüger, a tendência é de uma segmentação cada vez maior, para melhor se relacionar com os clientes.O executivo destaca ainda a diferença entre as classes. Segundo ele, enquanto a chamada classe social E, com renda até R$ 200 mensais, ainda necessita de inclusão social, não valoriza a adimplência e possui uma alta resistência a bancos, a classe E, com renda mensal até R$ 700 mensais, já tem uma baixa resistência às instituições financeiras, porém necessita ser bancarizada. Já a classe D, com renda mensal entre R$ 700 e R$ 1.100 mensais, são mais exigentes e politizados e dão mais valor ao nome e à adimplência. "Para chegar a essa população, desde novembro apostamos em parcerias com grandes redes de varejo para conceder o crédito", explica.Krüger ainda vê a restrição cadastral como um risco. "A recuperação dos inadimplentes deve ser feita com mecanismos baratos e de confiança, com cadastro em sistemas restritivos como o Serviço de Proteção ao Crédito [SPC]."Para o gerente executivo do Banco do Brasil, Benilton Couto Cunha, ainda representam grandes desafios para o microcrédito a ausência de um documento em muitos casos, a existência de um conceito de renda familiar, e não individual, e a informalidade existente nesse segmento.A crise não afetou o microcrédito no País. Segundo dados da Caixa, a sua carteira de microcrédito teve uma evolução de aproximadamente 45% até dezembro de 2008, em relação ao ano anterior, para um total de R$ 3,2 bilhões. O banco cooperativo Sicredi registrou, no ano passado, uma carteira de R$ 7,9 bilhões - alta de 51% sobre 2007. Até março deste ano, a entidade já acumula um crescimento de 5%, a R$ 8,3 bilhões. O bom potencial do setor fez com que o espanhol BBVA decidisse investir no segmento na América Latina.
DCI- Caderno Finanças & Mercados -16,17 e 18 de Maio
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